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Notas da Sovinice




 
 
Notas da Sovinice
Livro: Retratos da Vida - 15
Cornélio Pires & Francisco Cândido Xavier

Você deseja saber,
Caro Antônio da Planura,
O que sucede aos sovinas
Depois que a morte os procura.

O assunto pede cuidado,
Porqüanto, em tudo, na essência,
Não se deve caminhar
Com base na imprevidência.

Observe a natureza:
Na horta uma simples erva,
Vive, ajuda e se garante
Mantendo a própria reserva.

A árvore ampara sempre
Na bondade de que é feita,
Mas resguarda a seiva própria
Para dar outra colheita.

Melhor é viver no mundo,
Relembrando a história antiga:
Nem tanto quanto a cigarra,
Nem tanto quanto a formiga.

Em verdade, nunca vi,
Em meus caminhos terrenos
Quem não tenha um tanto mais.
Para dar a quem tem menos.

Toda pessoa precisa
De escoras, forças e meios,
De maneira a não pesar
Nos orçamentos alheios.
Mas sovinice, meu caro,
Na melhor definição,
É o pesadelo da posse
Com trevas no coração.

Você recorda Nhô Bruno,
Falecido em Miradouro;
Sem corpo, dorme no pó,
Julgando que dorme em ouro...

Enterrou muita moeda,
O nosso amigo Marçal,
Desencarnado, é vigia
Na barranca do quintal.

Agora depois da morte,
Alanco do Estaleiro,
Anda buscando o colchão
Em que prendia o dinheiro.

Sem corpo, Nhá Benta Paula
Hoje é um fantasma perfeito,
Mora no armário das jóias
Que guardava sem proveito.

Conquanto rica, Nhá Cota,
Desencarnada em Cumbica,
Vive na cova, pensando
Que mora em mina de mica.

Apegada nas baixelas,
Morreu Nhá Joana de Deus,
Sem corpo, vive agarrada
Ao que ficou nos museus.

Muito rico, mas sovina
Finou-se Juca do Grampo,
Comeu por economia
Tatu ervado no campo.

Falando em ouro e mais ouro
Morreu Altino de Grotas,
Mora no barro pensando
Que está num montão de notas.

Nosso prezado, Nhô Tuca,
Morto no Sítio dos Lessas,
Vive com medo dos santos
Aos quais fintava promessas.

Prudência, caro Antonico,
É paz na hora futura,
Entretanto, sovinice
De qualquer modo, é loucura.

Trabalhe, faça proveito
Do que ajuntou pelo bem,
Saiba, sempre, antes de tudo,
Que Deus não falta a ninguém.

     



Muita Paz

Gilberto Adamatti




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